Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Conversa de Homens

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

O R.I.P das redes sociais

24176683_10212784082769304_1549131426944797666_n.jpg

Quem me segue sabe o que penso sobre as redes sociais. O conceito é engraçado mas eu gostava que os meus amigos vissem e lessem aquilo que publico. Se não gostam, têm bom remédio. Não é isso que se passa. Como sabemos, é o algoritmo que decide o que qualquer pessoa quer ver e mostra muitas vezes o que não queremos, desde que alguém pague para o feed ser invadido por posts patrocinados.

 

Mas este é um resumo muito seco sobre o tema e serve apenas para lançar o debate relativo ao que se passa na realidade com as páginas virais, dos tais influenciadores, tão valorizados pelas marcas que gastam milhões a ajudar estes perfis a engordar. Em número, leia-se.

 

O caso que apresento é recente, ainda está muito fresco e choca-me porque sofro ao falar dos que partem. Chama-se Zé Pedro (daí a foto). Sim, o guitarrista mais amado de Portugal, o Homem que não era único, o Homem do Leme, um dos fundadores dos Xutos & Pontapés, talvez a banda portuguesa mais conhecida em todo o mundo. De certeza a banda que me acompanhou na adolescência e foi ponto de união de um grupo de amigos de toda a vida. Mas, como diria a senhora da TV, "isso agora não interessa nada".

O fenómeno das redes sociais leva a que milhares de pessoas façam like na página de alguém que acaba de partir para outro mundo

Multiplicam-se as manifestações de dor, surgem fãs incondicionais e de sempre, o Presidente da República, ao seu estilo, apela a uma “homenagem em grande” mas, quando fui ao Facebook, no dia em que morreu, havia menos de 70 mil gostos na página do Zé Pedro. Estranhei, afinal, há blogers com mais de 200 mil. Vou evitar nomear um para não tornar este texto numa espécie de ataque individual.

 

Pensei: realmente, faz toda a diferença ter uma estratégia de marketing bem montada e gastar uns cobres para aumentar a rede social, criar uma rede com força suficiente para me tornar influenciador.

 

Mas estranho, mesmo assim. Afinal, estamos a falar do Zé Pedro, amado, certamente, por mais de 70 mil fãs. No dia seguinte, voltei à página, já tinha passado os 70 mil. Nesse dia pensei: "agora, que morreu, conquistou mais 10 mil fãs". Talvez as pessoas achem que lá por onde ele anda, há Facebook. E planeei desde logo acompanhar esta "evolução".

 

E, tal como previa, não parou por aqui. No dia 5 de dezembro, cinco dias após a sua partida, a página contava com 81.886 fãs. Pelo menos mais 20 mil do que quando estava vivo. E isto leva-me a pensar, o que falta aos Xutos para serem uma banda com mais fãs? A própria página da banda ronda os 388.433 gostos. Recordem, um dos tais blogers tem 256.153 gostos. Se decidir dedicar-se à canção, talvez consiga encher um coliseu, ou um Pavilhão Atlântico, ou, quem sabe, integrar o cartaz do Rock in Rio-Lisboa.

 

Para quem ainda não percebeu o meu ponto, esta comparação pode até parecer injusta para os autores dos blogs em questão mas, na verdade, valerão mais do que uma Banda como os Xutos & Pontapés? Têm mais mérito do que o Zé Pedro? Será que têm mais influência?

 

Acho que eles próprios irão concordar que estão uns pontos abaixo desta banda icónica, para sempre. Mas para não parecer que estou a fazer uma comparação unipessoal (e não é), comparo também com a página de Salvador Sobral, com mais de 270 mil gostos, ou da sua irmã, Luísa Sobral, que também ultrapassa a barreira dos 200 mil.

 

É certo, Salvador Sobral ganhou o Festival da canção mas, mesmo assim, e como já o disse antes, haveria 200 mil fãs ou 200 mil pessoas que sequer soubessem da sua existência antes do Festival da Canção?

 

Para mostrar o meu ponto, não preciso de ir mais longe nem encontrar mais exemplos. E esqueçam a justificação geracional. Não são só os "velhos" que ouvem Xutos. Há muitos millenials, a geração do Facebook, que também é fã. E se engordam páginas de outras figuras que, na verdade, lhes dizem menos do que os Xutos, porque razão não o fazem na página da banda e do Zé Pedro. Reparem, nem vou falar das páginas dos outros elementos da banda.

 

O Facebook faz gala em possuir um algoritmo que decide por cada um de nós. E nós, todos, sem exceção, apanhamos a onda. Duvido que haja apenas 300 mil fãs dos Xutos & Pontapés, duvido mesmo que houvesse apenas 69 mil pessoas com vontade de seguir o Zé Pedro antes da sua morte, já que o número continua a aumentar. Mas, impõe-se as perguntas: porque razão não seguiam? E porque razão aparecem mais de 200 mil seguidores na página de um artista como Salvador Sobral, ou Luísa Sobral, ou de uma bloger?

 

Saltem de lá os grandes defensores das redes sociais, Google e Youtube. Os peritos nas estratégias que fazem engordar o número de amigos e gostos, com campanhas, pagas ou não. Coisa que, olhando para os números, de certeza que o Zé Pedro não fazia.

 

A verdade é que hoje em dia valoriza-se mais o número do que as pessoas ou a realidade. Valorizamos a quantidade e não a qualidade. Depois, vemos posts nessas páginas com 200 mil gostos com interações reduzidas, leia-se, uma página com 200 mil gostos e uns meros 70 likes numa boa maioria dos posts, talvez seja pouco. Mas sobre isso, também já escrevi bastante.

 

Não registei o número no momento em que vi pela primeira vez a página do Zé Pedro após a sua partida, nem sequer sei se quando lá fui já tinha havido uma corrida de fãs a clicar no "thumbs up", fiquei com uma ideia aproximada. Mas isto sei: a 7 de dezembro de 2017, sete dias após a morte do Zé Pedro, a página conquistou cerca de 14 mil gostos novos.

 

Dia 1 dezembro                Dia 4 dezembro           Dia 5 dezembro           Dia 6 dezembro        Dia 7 dezembro

fans_zepedro.jpg

 

O Zé Pedro é um ícone do rock português. Nem sempre um modelo a seguir, mas foi a sua luta para ultrapassar barreiras que o tornou num Homem simples, que usou o seu tempo para lutar por causas que também já o tinham atingido. Mas sobre isso, já houve muitos e bons textos publicados.

 

Para mim, continua a ser um fenómeno, um ícone, uma pessoa humilde de sorriso fácil.

 

Será que a página do Zé Pedro vai continuar a crescer em número de "amigos"? Acho que vale a pena designar este fenómeno da corrida ao clique nas páginas de quem parte para o outro mundo por Rest in Peace, redes sociais!