Feliz dia da mulher, e que seja todos os dias
Hoje, é o dia da Mulher. Para mim, como já escrevi antes, deve ser todos os dias. Mas hoje, assinala-se oficialmente este dia e há todo um movimento de pessoas e empresas a alertar para um dos maiores flagelos da atualidade: a violência doméstica contra as mulheres.
Hoje, como todos os dias, este e o dia das duas mulheres da minha vida.
Um homem que agride uma mulher é, antes de mais nada, um cobarde. Um pedaço de gente que merecia um tratamento medieval, tal como os seus gestos primários. Sim, também há homens que sofrem violência e esta não é apenas física e se já é complicado as mulheres apresentarem queixa, imagem um homem fazê-lo. Quem é que nunca ouviu falar do fulano A que leva nos cornos da mulher? No entanto, é preciso colocar as coisas em perspetiva.
E, quando se fala de violência, é preciso envolver toda a sociedade em torno desta causa porque, afinal, por muito que se queira, é difícil distinguir esta questão com a das desigualdades entre homens e mulheres nos cargos de topo, nos salários, na vida profissional em geral.
As mulheres são, por norma, as mães, as cuidadoras dos filhos e quem sacrifica a carreira para "cuidar" da família e do lar. Essa tem sido, aliás, uma das faces visíveis destas desigulades com a consequência do decréscimo da natalidade e de uma população cada vez mais envelhecida.
Ser a mulher a cuidar dos filhos pode até ser uma ideia do passado (pois já há muitos homens a assumir esse papel) mas ainda se encontra presente na atualidade. Quase nem vale a pena citar um estudo ou relatório pois todos apontam para o mesmo: as mulheres, nos mesmos cargos, ganham menos do que os homens e raramente chegam a cargos de topo nas empresas.
Mas a questão é mais profunda do que apenas social. Não se resume à ideia feita que os maridos ou companheiros têm de mudar de atitude para permitirem às mulheres, às mães dos filhos, "abdicar" da família para privilegiar a carreira. Tal como os homens jamais se deverão desvincular da sua função de pais e maridos, se querem pensar em progredir na carreira.
O problema, mais do que social e cultural, é político. É através da legislação que as coisas têm de mudar. Não se trata de fazer leis protecionistas das mulheres mas antes permitir que, à semelhança do alargamento da licença parental, haja legislação que possibilite a mulheres e homens conciliar a carreira com a vida pessoal e familiar. Sem estas leis, haverá sempre algum dos elementos do casal que tem de abdicar da carreira ou, simplesmente, como tem estado a suceder, adiar ou abdicar de ter filhos.
Em muitos casos, quando os têm, já com idade mais avançada, o que culmina numa política quase autoimposta de filho único. Este problema é político e social porque são os filhos que, mais tarde, irão manter vivo o sistema de Segurança Social. Sem eles, caminhamos a passos largos para uma sociedade envelhecida, sem jovens para contribuir e idades de reforma cada vez mais dilatadas.
Mas hoje, é dia de celebrar a mulher. Na Rússia, soube ontem ao cortar o cabelo (sim, a minha cabeleireira é uma russa) este dia é celebrado de forma efusiva. De tal forma que me disse que por cá não damos importância ao tema. Na Rússia, todos os homens, na rua, dão os parabéns às mulheres neste dia, mesmo as que não conhecem. Mas, o problema mantém-se: e no resto do ano?
Hoje, como todos os dias, este e o dia das duas mulheres da minha vida. Não sou nem pretendo ser perfeito. Nem tudo são rosas, como se costuma dizer, mas isso faz parte da vida e de outras conversas.