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Conversa de Homens

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Deixámos o Facebook tomar conta das nossas vidas

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Este ano, decidi não enviar SMS de boas festas a ninguém. Ninguém recebeu uma mensagem minha, nem um telefonema. Ao contrário do que costumo fazer todos os anos quando passava, pelo menos, uma hora a percorrer a lista de contactos para enviar uma SMS, igual para todos, com algumas customizações para alguns. Coloquei um vídeo no Facebook onde faço algo que até nem gosto muito de fazer, que é expor a minha filha.
 

Depois, assim que a mensagem saía, e à medida que ia chegando aos telefones dos destinatários, lá recebia um obrigado e retribuição de votos. Este ano, não enviei nenhuma, e recebi apenas uma mensagem, vá duas! Antes que comecem a interpretar este texto como uma espécie de lamúria pública, devo alertar que não é. Sinto-me bastante confiante e sei que os meus amigos estão lá, tal como os conhecidos.

Sim, porque esta ideia que o Facebook "impôs" que cada um de nós tem milhares de amigos, mais do que errada, é um fenómeno que ainda está por ser estudado. Desconhecemos por completo qual o real impacto nas nossas vidas.

Não estou com esta conversa para atear fogo ao Facebook, mas para realçar que precisamos, como humanos, de manter as coisas em perspetiva. 

Tal como sei que me custa passar pelos contactos no telefone e dar de caras com os nomes de algumas pessoas que já partiram. Mantenho esses contactos porque me custa apagar. Não que me esqueça se não estiverem lá. É um sentimento estranho!

 

Estava a pensar se escrevia este texto, de que forma o iria abordar, e o Facebook fez questão de se tornar útil ao mostrar na minha timeline, uma daquelas memórias. Esta é de há três anos quando escrevi um post com a seguinte frase: "Pensamento do dia: O que o FB trouxe de "bom". Se não abrimos a página não recebemos mensagens de Boas Festas".

 

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Reforço, isto foi há três anos e nem me recordava de o ter escrito. No entanto, percebo agora, pelo menos desde essa altura que noto esta má influência do Facebook, das "redes sociais", nas nossas relações interpessoais. A culpa não é do Facebook, nem da Internet. A culpa é nossa que, aos poucos, vamos deixando cair algumas características que distinguem o ser humano.

 

Perdemos o sentido de proximidade, de contacto humano, em troca de um número de amigos virtuais. Muitas vezes que só lá estão para fazer número. Convenhamos, nem o Cristiano Ronaldo tem tantos amigos assim (daqueles que ele considera como tal). Mas todos invejamos aquele número de amizades que CR7 tem no Facebook. Vai em cerca de 118.616.466 gostos...

 

Antes e depois do boom da Internet

Em 1998 (foi o ano da Expo'98), estava ainda a trabalhar no extinto Diário Económico, na redação havia apenas um computador ligado à Internet. Uma coisa que poucos conheciam e, acreditem, ainda se dava pouco valor. Uma ligação analógica, com um acesso através de uma coisa chamada Netscape Navigator. Uma ligação que demorava horas e que fez com que muitos acreditassem que aquilo (a Internet) nunca iria vingar. Já se usava o telemóvel, mas ainda se recorria bastante ao telefone fixo.

 

Notem, pessoas que tenham agora cerca de 25 anos, vêm esta conversa como eu provavelmente via as conversas dos meus avós, do meu sogro (que tem 83 anos). De pouco ou nada se lembram desses anos e de como as coisas aconteciam na realidade. Esqueçam essa ideia que podem estar a construir. Sou um adepto das novas tecnologia, adoro gadgets e reconheço os benefícios que trazem em algumas áreas, do contributo para a qualidade de vida. Da vida que consideramos ser a do mundo moderno. Mas no respeita às relações entre humanos, não estamos a conseguir lidar com isso.

 

Tal como todos nós, na casa dos 40's, questionamos como era possível viver sem telemóvel. A resposta é relativamente simples: As coisas eram combinadas com tempo, quase nunca se falhavam encontros, e eram raros os atrasos, porque, lembrem-se, não havia telemóveis para avisar, em cima da hora: "olha, se calhar não vou conseguir estar aí".

 

Mas, voltando a focar no tema do Natal, porque esta conversa é muito mais do que uma história sobre conflitos geracionais, nesta altura, recebia postais de Boas Festas e enviava outros tantos. Depois, surgiram os postais por email (bem recebidos porque, afinal, estávamos a poupar papel, árvores, a natureza) e atualmente, 19 anos depois, quase tudo se resume ao Facebook.

 

Sim, bem sei que haverá alguns que podem dizer que ao contrário de mim receberam muitas mensagens por SMS, até alguns postais no correio, mas tenho a certeza que muitos daqueles que decidiriam não abrir o Facebook, tal como eu escrevi neste post há três anos, ficaram sem receber mensagens de Natal de muita gente.

 

Não sou psicólogo, e deixarei para algum estudioso da área a análise ao tema. Mas até que ponto esta ausência de mensagens pode influenciar psicologicamente um indivíduo? Contribuem, certamente, para o afastamento das pessoas, pelo menos no que diz respeito ao contacto presencial.

 

E, mesmo que alguns possam discordar do que escrevi até agora, será consensual que os verdadeiros amigos são aqueles que estão lá, em pessoa, naquele momento que precisamos e não os que, de forma virtual, estão em contacto o ano inteiro.

 

São as intenções

Mesmo no que respeita a solidariedade, admiro a mobilização que o Facebook consegue fazer em torno de algumas causas. Mas, na maior parte das vezes, tudo se fica pelo mundo digital. Acreditem, fazer um like, um comentário, uma partilha num post que diz que há pessoas a viver na rua, que passam a noite de Natal sozinhas, ao frio, num banco de jardim, pode deixar a consciência tranquila, mas não ajuda essas pessoas. Pensem assim, essas pessoas nem sequer têm Facebook, muitas, provavelmente, nem sequer sabem o que isso é. Partilhamos, ficamos com aquela sensação de dever cumprido, mas isso em nada ajuda quem precisa.

 

Há uns anos, (gosto de pensar que não foi assim há tantos como isso), fui à Igreja para me confessar e o padre diz: "confessa-te a Deus". Basicamente, ele era da opinião que não adianta ir ali contar os meus pecados para aliviar a consciência e poder voltar a fazer as mesmas asneiras. Tinha de viver com a consciência tranquila e confessar-me a Deus, arrependido de verdade. Como todos celebram o Natal, que apesar das prendas, é a data que assinala o nascimento de Cristo, não bastar ser boa pessoa apenas nesta dia, é preciso ser assim o ano inteiro!

 

Tal como cerca de 548 mil outras pessoas, vivo em Lisboa. Ao fundo da rua, existe um jardim que uma série de pessoas reclamaram como a sua "casa". Vivem ali há anos, dependem da ajuda que lhes vai chegando e, acreditem quando digo, eles precisam de ajuda todos os dias, não apenas no Natal. E, antes que se perguntem o que faço por estas pessoas, pouco ou nada. Não me estou a colocar num patamar acima de qualquer outro.

 

Claro, o Facebook é excelente para chegar às pessoas, para mobilizar, mas a ajuda real implica ação, sair da cadeira, levantar os olhos do telemóvel para ver a realidade à nossa volta. Não estou com esta conversa para atear fogo ao Facebook, mas para realçar que precisamos, como humanos, de manter as coisas em perspetiva.

 

Porque, gosto muito se saber que o meu amigo de toda a vida, o Manel (que vai servir para ilustrar todos os amigos reais), e com o qual não contacto pessoalmente há dezenas de anos, tem uma horta de onde saca umas couves penca fantásticas, biológicas, mas espero que em 2017, possa saber disso, estando lá com ele e não apenas através de uma foto postada no Facebook.

 

Boas Festas, e que o próximo ano possa ser favorável aos encontros reais!

 

Os presentes na última hora

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Chega o Natal, mais depressa do que esperamos, e todos os anos é a mesma coisa: o presente mais especial, ainda está por comprar.


Queremos ter a certeza que compramos o presente certo, sondamos a destinatária, tentamos adiar ao máximo para conseguir reunir toda a informação que nos vai levar... ao desespero.


Tudo isto porque, de repente, me apercebo que o Natal é já este fim de semana e ainda me falta comprar "o presente". Já pensei em tudo, e nada chega, nada é suficientemente bom, das coisas mais simples às mais complexas. Se ela ao menos gostasse de gadgets, talvez um drone?


Tecnologia, gosta apenas daquela que tem utilidade prática (telemóvel, computador) e não está a precisar de renovações. Passamos à roupa, sempre que tentei sondar, não precisa de nada. Talvez um pijama quentinho...

Na maior parte do tempo esquecemos da falta que milhões de pessoas têm, de coisas que damos como adquiridas, como a esperança no dia de amanhã, no que vai acontecer daqui a um minuto, na bomba que pode cair e acabar com tudo em escassos segundos.

Bugigangas, além das dezenas, centenas, que já tem, ainda gosta de fazer as suas próprias criações. Será apenas mais uma. Um anel, uma joia a assinalar mais um ano? Mais uma mala?


Escrevo este texto em desespero. No meio de tudo o que tenho para fazer, este é o único presente que ainda preciso de arranjar. Se me perguntarem uma sugestão para outra pessoa, sou capaz de dar dezenas, mas não para Ela. Tem de ser algo especial. Tão especial que o mais certo é chegar à noite de Natal sem nada para oferecer. Um beijo, e promessa de continuar a dar aquilo que mais ninguém lhe pode dar. Amor incondicional.
Sim, isso é, para mim, o mais importante mas não pensem que vai ficar sem presente. Talvez não seja nenhum dos que imaginam, mas vai ser algo especial.


Esta conversa foi feita em moldes diferentes, mais introspectiva, para perceberem como estou confuso com algo que é, aparentemente, simples e fútil. Olho para tudo o que se passa no mundo, e penso, será que um presente é mais importante que todo o sofrimento que se vê?


Sim, vivemos numa sociedade consumista que tende em esquecer-se das coisas mais básicas. Da falta que milhões de pessoas têm, de coisas que damos como adquiridas, como a esperança no dia de amanhã, no que vai acontecer daqui a um minuto, na bomba que pode cair e acabar com tudo em escassos segundos. Olho para a minha filha e tento, em vão, afastar os pensamentos em que a vejo no lugar das crianças Sírias que se vêm na televisão. Desespero. E penso, há coisas que o dinheiro não pode comprar.


Mas, em situações como a vivida na Síria, tudo tem a ver com dinheiro. Alguns que ganham com o sofrimento de milhares perante o silêncio de todos os que pensam que "aquilo está longe". Não está! E só percebemos isso de cada vez que uma pequena amostra dessa violência nos chega mais perto. Trememos, mas rapidamente passa, seguimos com a nossa vida, continuamos de olhos fechados.


Não, não devemos ceder ao terror. Mas há coisas que são mais importantes do que um simples presente de Natal. Até porque, aquilo que importa no Natal, o tal espírito de que tanto se fala, é algo que deveria viver durante todo o ano. Quem sabe...


Agora, vou continuar a procurar no meio da confusão de pensamentos, (o misto entre a "festa" e alegria que devo proporcionar à minha filha, à minha família, e o desejo de poder fazer algo por tudo o que se passa de errado no mundo), qual o presente especial que vou comprar para a noite de Natal!

 

Boas Festas, acima de tudo, boas Conversas!

 

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