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Conversa de Homens

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

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Fidel, Cuba e Eça de Queiroz

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Eça de Queiroz foi nomeado Cônsul de primeira Classe nas Antilhas Espanholas, a 16 de março de 1872. A marca de Eça ainda é visível em Havana onde prestou serviço durante 16 meses. Nomeadamente na Casa de Las Infusiones (na foto), conhecida também como Columnata Egipciana. Um dos locais "obrigatórios" para o percurso turístico e onde Eça passava alguns momentos a relaxar. A 20 de Março de 1874, é transferido para o consulado em Newcastle, na Inglaterra. As razões da sua transferência terão sido alguma intolerância ao clima quente.

 

Cerca de 87 anos depois, Fidel Castro entra triunfante em Havana, após derrubar o ditador Fulgêncio Baptista. A vida de Fidel foi relevante e após esta libertação do regime de Baptista, vê-se obrigado a liderar um país fechado ao mundo, vítima de bloqueio norte-americano. A história tem um peso significativo e ainda irá revelar mais sobre aquilo que foi o regime de Fidel Castro. As ligações à ex-URSS, com a presença de mísseis nucleares em Cuba, das perseguições políticas a quem discordava da política do líder revolucionário, levadas a cabo pelo líder que lutou contra elas.

 

Os defensores do regime de Fidel, que acabou por submeter o seu povo a uma ditadura de esquerda, asseguram que a culpa de todos os males cubanos é do imperialismo. Os cubanos, na sua maioria, sentem este regime de forma diferente.

 

Quem, como eu, visitou Cuba ainda durante o regime de Fidel, teve a oportunidade de contactar com uma realidade de perseguições políticas, de um regime que se afirma a favor do povo mas que, na sua génese, apertava o cerco a qualquer tentativa de expressão livre. "Podemos dizer tudo, desde que não se fale mal de Fidel e do regime". Este comentário era frequentemente proferido por vozes recesosas de alguém as poder ouvir. Estávamos em 2009, Fidel já estava doente os destinos de Cuba foram delegados ao seu irmão, Raul Castro, a 19 de fevereiro de 2008.

 

Raul prometeu reformas mas Fidel continuava a mostrar quem mandava em Cuba. As visitas de líderes como Hugo Chaves, e as aparições frequentes de Fidel, como prova de vida, prova de que o líder continuava presente, mantinham todas as reformas mais profundas ao nível das vontades.

 

Durante todo o regime, e isso conta a própria história, a saúde para todos, a educação (desde que seguisse a linha autorizada pelo regime), contrasta com a falta de acesso a bens essenciais. São conhecidas as viagens feitas por idosos portugueses a Cuba para fazer operações às cataratas, por exemplo. Um serviço que não conseguiam em Portugal em tempo útil. Mas é impossível aprofundar toda a história de Cuba num texto de blogue.

 

No entanto, é preciso assumir as coisas como elas são. Dizer que os atos errados de Fidel "não podem apagar naturalmente a homenagem a um grande revolucionário", como afirma Catarina Martins, é o mesmo que dizer que são merecidas homenagens a Salazar, apesar dos seus erros ditatoriais. Um ditador, é um ditador, seja de esquerda ou direita.

 

 

O embargo

O embargo económico, comercial e financeiro foi a resposta amerciana às expropriações relaizadas pelo regime de Fidel Castro após a Revolução. Apesar da sua existência durante anos, os EUA enviaram ajuda humanitária e viram as Nações Unidas condenar formalmente esta medida durante anos.

 

Desde 2000 os EUA permitiram alguma abertura mas os bens tinham de ser pagos antes dos navios zarparem dos portos americanos. Este embargo foi bastante criticiado até pelos opositores a Fidel pois consideram que o bloqueio acabou por favorecer o líder da Revolução, em vez de o fazer caír.

 

Um dos símbolos do imperialismo norte-americano sempre foi a Coca-Cola, proíbida em Cuba, mas que existia à venda e continuava a ser servida nos hotéis frequentados por turistas.

 

Em 2009 havia, no centro de Havana, lojas a vender o refrigerante imperialista, mas tal como diziam os cubanos, era uma espécie de armadilha: "quem fosse apanhado a beber, poderia ser detido para interrogação". O que quer que esse processo significasse.

 

Mas, aquilo que mais me impressionou, quando visitei Cuba durante o Regime de Fidel, foi o facto de ser proíbido comprar, por exemplo, um saco de cimento para fazer uma reparação em casa. Se alguém fazia uma obra, por mais pequena que fosse, era de imediato visitado pela "polícia" e interrogado durante horas. Afinal, era preciso apurar onde tinha ele arranjado o cimento, o balde de tinta, os tijolos. Geralmente, o material era confiscado pelas autoridades. Estava à venda, mas era preciso uma "autorização especial" para o adquirir.

 

E, tal como foi relatado pelos próprios cubanos, muitas vezes eram os vizinhos a fazer queixa desta "manifestação de riqueza". Apesar da aparente segurança turística, sentia-se o medo na vida dos cubanos.

 

O seu "ódio" para com os Estados Unidos, convivia com a sua admiração pela cultura americana. A paixão pelo basebol, amplamente promovido por Fidel, ao ponto de ter o seu filho na seleção e, pelo que contam os cubanos, "telefonar ao selecionador durante os jogos para definir táticas", era disso um exemplo. A ambição, ser melhor do que os próprios americanos no seu jogo!

 

Fidel sempre foi um homem inteligente, que lutou pelo povo mas que, depois de assumir o poder, jamais o largou. "Pátria ou morte", e Fidel manteve-se líder da pátria até à sua morte, aos 90 anos de idade. Fidel acabou por assumir a política como uma espécie de luta pessoal com os Estados Unidos, muito influenciado pela Rússia e outros países com regimes comunistas que asseguravam a chegada de mantimentos a Cuba.

 

A História irá julgar Fidel, tal como o próprio dizia, mas ficam poucas dúvidas sobre a sua influência na política internacional, na própria relação com a Igreja Católica. Afinal, nem todos os líderes do mundo, mesmo os mais católicos, podem dizer que se reuniram com três papas distintos durante os seus mandatos.

 

Fidel, ateu assumido (apesar da sua educação franciscana), reuniu-se com eles e conseguiu sempre discursos de alguma admiração por parte dos líderes da Igreja Católica. Desde a Revolução que o catolicismo foi proíbido em Cuba, obrigando os padres a fugir para os Estados Unidos. Só após 1992 Fidel baixou a guarda em relação ao catolicismo, mostrando alguma abertura ao diálogo e tolerância. Em resultado desta medida, João Paulo II realiza uma visita histórica a Cuba.

 

Depois, veio o encontro com Bento XVI, em 2012, e em 2015 com Francisco. Este último fez questão de enviar as condolências à família de Fidel Castro.

 

Comecei com Eça e é com esta citação de Os Maias que termino: "Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssimo, com os direitos de Alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas...". Eça de Queiroz falava de Portugal, mas é um retrato que se pode aplicar à ilha de Fidel Castro.

 

Em Cuba importava-se menos porque havia um bloqueio e menos ainda depois da Queda do Muro de Berlim. As ideias, filosofias, teorias e leis eram, regra geral as de Fidel. Ou, quem sabe, oriundas de um centralismo político com fundações exteriores. Os cubanos, que anseiam por uma mudança, uma abertura ao mundo, já não acreditam em discursos. Raul prometeu mudanças, deu alguns sinais para um novo rumo, mas em cerca de 10 anos, as alterações tiveram pouco impacto na vida do povo.

 

Há quem recuse falar de líder histórico e aceite apenas o termo "ditador" para falar de Fidel Castro. E se tentativas de revolta houve, Fidel sempre soube, melhor do que ninguém, como as abafar antes de terem força para crescer. Afinal, foi ele o líder da Revolução.

 

Recorde algumas das afirmações de Fidel sobre Liberdade de Imprensa e de Expressão em Cuba.