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Conversa de Homens

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Uma conversa sobre racismo

Artur Timóteo da Costa

 Pintura de Artur Timóteo da Costa

 

Eu sou uma daquelas pessoas que, normalmente, quando se fala do tema, defendo que apesar de ainda haver algumas mentalidades mais rijas, pessoas que se julgam superiores às outras, isso não tem a ver com racismo mas com a mania de alguns.

 

Confesso, pela cabeça ainda circulam ideias antigas, anedotas, mas que, por um lado, servem para perceber a importância que existe em manter as coisas em perspectiva. Um pouco como lembrar a ditadura para garantir que ela não volta, seja de que lado ela surja (esquerda ou direita).

 

Infelizmente, muitas vezes, sou confrontado com a dura realidade. O racismo ainda existe e há pessoas a argumentar contra os negros como se estivessem a falar de seres inferiores. Custa ouvir, mas todos nós, como sociedade, somos, em parte, culpados.

 

A cor da pele sempre foi um motivo de segmentação e hoje, durante o almoço, deparei-me com uma conversa na mesa do lado, que era impossível não ouvir. Resisti para não intervir. Uma mulher, provavelmente já perto dos 50, linda, daquelas que fazem tremer qualquer homem, e à qual só lhe atribuímos a idade por alguns traços de feições  - fora isso, uma aparência bastante juvial - almoçava com o pai e com uma senhora, vou deitar a adivinhar, companheira do progenitor.

 

A determinada altura da conversa, o pai, que já esteve em África, apresenta argumentos racistas que deixam a filha irritada. Começa uma troca de argumentos e eis que a senhora com mais idade se sai com esta pérola, quando a filha apresenta como facto ciêntifico que todos temos origem em África: "Adão e Eva eram brancos!"

 

Confesso, tive de resistir para não me saltar o cozido à portuguesa da boca. Cozido sem orelha e sem chouriço preto, não por racismo mas porque me provoca indigestão. A conversa subiu de tom e acredito que só não terminou de forma mais agressiva porque estávamos num restaurante. A determinada altura, o pai já nem abria a boca perante a troca de ideias das duas senhoras da mesa.

Recordei a escola primária, entre 1976 e 1980, onde havia os meninos negros, que tinham vindo na vaga dos retornados, que faziam desenhos brutais, com um traço genial, que imitavam na perfeição grandes obras enquanto eu, tal como a maioria, mal conseguia fazer uma linha a direito. 

"Seres inferiores", alega a senhora, já de idade mas ainda com ar de quem consegue fazer quilómetros a pé. Pelo menos com energia para defender ideias de meter os cabelos em pé. "Já viste algum pintor negro, ou compositor?"

 

Discretamente, peguei no smartphone e fiz uma pesquisa no Google. Estive quase para lhe mostrar o resultado mas contive-me. Não me apetecia meter na conversa e ficar a esgrimir argumentos com alguém que acredita que Deus criou o homem branco e sabe-se lá como surgiram os negros.

 

De repente, recordei a escola primária, entre 1976 e 1980, onde havia os meninos negros, que tinham vindo na vaga dos retornados, que faziam desenhos brutais, com um traço genial, que imitavam na perfeição grandes obras enquanto eu, tal como a maioria, mal conseguia fazer uma linha a direito.

 

Sim, podemos dizer que são povos que, devido às restrições impostas, tiveram uma evolução diferente a diversos níveis. Mas se há coisa que sempre tiveram bem vincada é cultura, identidade. Sempre tiveram a sua música, os seus sons, os seus ritmos, as suas cores.

 

Provavelmente teriam de ter a oportunidade de tocar piano ou violino para poder compor grandes obras como aconteceu com os maiores mestres da antiguidade. Mas, consegue alguém colocar em dúvida que os sons destes povos africanos mais antigos, não tiveram, e continuam a ter, influência na música do mundo?

 

Oportunidades. Foi isto que, em parte, os Europeus sequestraram aos africanos, indianos, chineses...

 

Hoje em dia, e já desde, pelo menos, a segunda metade do século XIX, que a história brasileira, relata os contributos de pintores como Arthur Timótheo (1882-1922); Benedito José Tobias (1894-1963); Emmanuel Zamor (1840-1917) e tantos outros. Ou, apenas para citar um, o afro-americano Gordon Parks.

 

Cito estes quatro e deixo à vontade de quem realmente se interessar em saber factos, fazer a sua pesquisa quando pensar que a pintura, ou outras artes, são um exclusivo do cara pálida.

 

Há grandes diferenças entre os povos. Culturais, sociais, matrimoniais. Mas serão essas diferenças assim tão más? Além disso, as diferenças não são entre brancos, pretos ou amarelos. A diversidade cultural é uma das grandes riquezas da humanidade que devem ser mantidas. É isso que nos faz crescer e evoluir como seres humanos.

 

Os portugueses têm hábitos diferentes dos espanhóis ou alemães, só para reforçar a ideia.

 

Deixo uma última nota para o facto do racismo contra negros não ser um exclusivo de alguns brancos na atualidade. Desde sempre, as diferenças tribais, entre negros, ajudaram a que a escravatura tivesse alcançado uma dimensão tão grande. E esse, apesar de ser um ato condenável, é mais uma prova da perversidade do ser humano, que consegue atentar contra os próximo só porque tem algo a ganhar com isso.

 

Quando se pensa em escravatura coloca-se em evidência a relação entre brancos e negros mas é preciso não esquecer que já na antiguidade egípcia havia uns senhores, que se julgavam superiores, deuses, que escravizaram povos inteiros. Deixo isso para os livros de história!

 

Para a mulher que saiu do restaurante visivelmente perturbada pela conversa, e com quem troquei um sorriso de empatia, ela com alguma vergonha alheia, simboliza a esperança das pessoas que têm a responsabilidade de educar as gerações que chegam. Porque, quanto às mais antigas, dificilmente se irá conseguir alterar aquilo que ficou gravado a fogo.

Varekai: Porque o mundo precisa de histórias bonitas

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Em 2009, quando Varekai, do Cirque du Soleil, estreou em Portugal, tive a oportunidade de fazer a cobertura, assistir aos ensaios gerais e à sessão de abertura ao público. Este ano, a história de Ícaro, adaptada por Varekai da mitologia grega, regressa a Lisboa, e vai estar em cena até ao próximo dia 15 de janeiro.

 

O Cirque du Soleil dispensa apresentações, e praticamente todos os espetáculos que coloca em cena são sinónimo de qualidade de representação, cenografia, guarda-roupa, som, iluminação. Tudo é trabalhado ao pormenor nos bastidores deste espetáculo que, por um par de horas, ajuda a fazer esquecer das palhaçadas que se vão vivendo na vida real.

 

Aqui ficam algumas das imagens do espetáculo decorrido em 2009.

 

Algumas imagens dos ensaios antes da abertura ao público.