Afinal, como pode uma mulher "arranjar" um homem?
A conversa provocada pela pergunta da minha filha levou a uma continuidade sobre o tema. Afinal, como pode uma mulher arranjar um homem? Bem, para começar, tenho de me preparar para a próxima investida que ela possa fazer sobre o tema (e rezar para que as novidades no questionário estejam na matéria que vou estudar).
Depois, pelo que me apercebi, através de comentários, alguns colocados publicamente mas outros, a maioria, privados (e assim vão continuar), há muitas mulheres adultas a fazer a mesma pergunta. Vamos ver se consigo contribuir de alguma forma para ajudar algumas a encontrar o que procuram.
Há os mais românticos, que oferecem flores, se recordam das datas importantes; os machos latinos; os submissos; até aqueles que enquadro na categoria de bestas. E até estes últimos conseguem ter a sorte do seu lado e conquistam mulheres.
Mas não são estes estereótipos que definem o homem que as mulheres procuram, se assim fosse, a resposta seria simples. Não é!
Desde que me lembro de começar com os namoricos, e sempre que puxo por essas memórias, consigo ir muito antes da idade dos 14 anos, há uma coisa que a minha mãe me ensinou e que me serviu sempre. Respeito mútuo! "Um dia, quando te casares, trata bem a tua mulher", dizia a minha mãe. E porque sempre tive por ela um grande carinho e respeito (não sou um filho exemplar, também tive os meus maus momentos), segui sempre esse conselho.
Podem até pensar que a influência também está na envolvente familiar. Não está, esse tema fica para outra conversa, mas a minha mãe, que partiu demasiado cedo, não foi tratada como merecia. Longe disso! O meu pai esteve na Guerra Colonial, na Guiné, e digo apenas que, apesar de tudo, sobrevivemos!
Mas, voltando ao tema desta conversa, o respeito é a base de qualquer relação, de amizade, de amor, de pai, de filhos. Quando não há respeito, dificilmente irá haver qualquer outra coisa. Quer dizer, pode haver outra coisa qualquer, mas não a coisa que queremos. Apesar de, por vezes, basta essa coisa que todos queremos!
Convém esclarecer que não tenho uma receita milagrosa. Quem quiser milagres, pode preparar a visita a Fátima, ou a fazer uma investida pelos Santos Populares, em especial pelo Santo António.
Ao longo da vida, desde muito cedo, tive de viver, como a maioria de nós, com o estigma de não ser o gajo mais bonito da escola. Bem, se calhar, nem estar no top 10. E, por isso mesmo, as raparigas de quem "todos" gostavam, as top, estavam sempre fora do alcance pois só tinham olhos para os rapazes que circulavam nesse patamar reservado apenas a alguns.
Era uma chatice. Os namoros eram, quase sempre, previsíveis. A menina loira, iria, certamente, namorar com o rapazito loiro. Tal como a chinesa teria de namorar com o chinês (mesmo que a única coisa que os ligasse fossem as feições e um fosse chinês e outro japonês). Eram os preconceitos da época e que, infelizmente, ainda existem. Mas já lá vamos!
Por isso, todos os outros, os que vivíamos abaixo dos "deuses", fazíamos tudo para conseguir trocar um único olhar com as raparigas "bonitas". A natureza não deixa nada ao acaso e acaba por nos dotar de ferramentas para conseguir lá chegar. O esforço, a dedicação, a atenção aos pormenores são essenciais para conseguirmos furar o destino. E por diversas vezes consegui provar que o preconceito não passava disso mesmo. Na vida, salvo as tais excepções que ainda hoje fazem com que as figuras públicas apenas criem relações com outras figuras públicas, é possível encontrar dezenas de casos de amores "imprevisíveis".
Mas, porque razão isso acontece e como podem as mulheres (as que procuram), encontrar o homem que pretendem? Precisam de saber escutar mais do que as amigas (que também são concorrência feroz nesta demanda) e ir além dos preconceitos. Precisam de ouvir o coração. Não têm de o seguir cegamente (e é aqui que convém envolver a cabeça) mas precisam de o ouvir!
Quando a minha filha iniciar esta fase da vida, espero estar cá e à altura dos conselhos que ela precisa. Estarei sempre ao seu lado para a apoiar e tentar minimizar os danos. Mas sei que, na maior parte das vezes, a decisão tem de ser dela (e tenho a certeza que em alguns casos vai custar a engolir), e que, provavelmente, ela pouco ou nada me irá querer ouvir.
Acredito que é o mesmo que se passou com a maioria das mulheres que hoje em dia ainda procuram "o homem"! Por mais que os pais (plural, porque inclui as mães) as tenham guiado, na maior parte das vezes foi mais fácil seguir as indicações das amigas, da tendência do momento. Escolher o namorado é um bocado como optar pela calça de ganga com cintura rebaixada... está na moda!
Quantas vezes o namorado foi escolhido porque era a melhor forma de chocar os progenitores? Faz parte da rebeldia mas, muitas vezes, passar esta fase sem danos graves é uma questão de sorte. Muitas mulheres acabam por sofrer com as escolhas. E antes de me rotularem de machista e sexista, os homens também passam por isto mas, por diversas razões que podemos abordar noutras conversas, é preciso dizer, existe uma diferença no que respeita ao género.
Desde logo porque as mulheres são um alvo fácil dos abusos. Podem sofrer danos que as irão marcar para o resto da vida. Nem sempre fáceis de colocar naquele cantinho das memórias para esquecer. E os homens, por mais evolução que exista, serão sempre homens.
Uma história dentro da conversa
Ao escrever este texto chego aqui e recordo uma história que se passou na secundária. Estava no meu passatempo favorito, a jogar vólei, quando uma colega me chama com ar aflito - Podes vir ali comigo? A M. está na enfermaria.
Sem perceber bem o que se estava a passar, o facto de estar na enfermaria foi suficiente para me deixar o coração mais acelerado do que o exercício físico - o que se passou, caiu? - perguntei.
- Não, ela está bem, está só a chorar! - disse a M.J.!
- Se está a chorar, não deve estar bem - respondi.
- Sim, mas não caiu nem nada - replicou ela - já vais ver, ela quer falar contigo!
- Está bem - disse eu - agora é que fiquei mesmo curioso!
A M. nem sequer era uma as raparigas com quem me dava mais naquele ano e, além disso, até era uma das mais bonitas da escola!
Entrei na enfermaria e ela estava deitada na marquesa, enroscada, a chorar - então, que se passa? - a pergunta desencadeou um aumento no volume do choro!
Entre soluços, e como também não me recordo exatamente de todas as palavras, lá me contou - fui violada!
Esta afirmação soou a algo saído de um filme de terror, daquelas coisas que já se ouvia mas que estavam sempre longe de nós. Só aconteciam aos outros.
- Foste violada, quem foi o gajo? - saltou logo a pergunta, pronto para fazer justiça. Afinal, como irmão de duas raparigas, sempre houve esse sentimento de proteção máscula!
- Não interessa, aconteceu e não sei como contar aos meus pais!
- E o que queres que faça, que seja eu a contar? - perguntei, de forma retórica, no íntimo esperava que não fosse isso que ela queria. Nem sequer conhecia os pais dela.
- Sim, não te importas? - respondeu ela - eles estão lá fora, à espera!
- Agora? - tremi!
- Sim.
Voltei-me para a M.J. - agora? Eu nem os conheço.
- Eu vou contigo.
- Mas porque razão querem que seja eu a contar? - Até hoje estou sem resposta a esta pergunta, acredito que tenha sido escolhido porque sempre mostrei respeito por todas as raparigas com quem me cruzei. Bem, provavelmente algumas podem ter coisas a apontar, (longe de ser perfeito), mas de falta de respeito, nenhuma me pode acusar!
Lá fui, de pernas trémulas, em direção à porta da escola onde estariam os pais da M. Aguardavam dentro do carro. Entrámos, eu e a M.J.
- O que se passa afinal com a M.? - perguntaram eles com um tom estranhamente calmo.
- Não sei bem como dizer isto sem ser de forma direta, a M. foi violada.
Foi neste momento que as expressões deles mudaram. - Quer dizer, ela está muito nervosa e não consegue explicar-se muito bem, mas diz que foi forçada, que não queria, mas que aconteceu! - Foi nesta altura que percebi que estava a tentar contar a história, como me foi contada e que não fazia muito sentido.
- Foi o namorado - acrescentei - estavam lá em casa e a determinada altura ela queria, mas depois não queria, e aconteceu na mesma!
O pai aparentou um ar de relaxe e perante o meu nervosismo, tentou acalmar-me - Está bem, então ela está nervosa porque aconteceu e não propriamente porque foi forçada? - perguntou!
- Acho que sim, pelo que conta está mais com medo da vossa reação do que propriamente com o que sucedeu. Mas se ela não queria, ele não deveria ter forçado e acho que devia ser castigado - respondi, armado em cavalheiro.
- Nada disso - disse o pai - não queremos cá vinganças nem lutas! Nós tratamos do assunto, não precisas de estar nervoso e preocupado. A M., consegue vir cá fora? - perguntou o pai!
- Não sei, podemos ir lá falar com ela - e fomos!
Depois de a convencer que os pais estavam calmos e que não iria levar uma tareia pelo que se passou, acalmou e foi ter com os pais. Não sei o que falaram depois, mas mais tarde agradeceu-me pela minha intervenção no tema. Sinceramente, na altura senti que não fiz mais do que passar a mensagem, mas à distância, percebo que foi crucial, pelo menos para ela, conseguir esta ajuda para enfrentar os pais com o tema. Reagiram, devo dizer, de forma exemplar. Porque razão fui escolhido para a tarefa? Não faço ideia!
Mas, até hoje, sempre evitei "forçar", mesmo quando as coisas estavam no ponto de ebulição. Sempre me ficou na memória aquele momento sofrido pela M.
Feita esta adenda á conversa, voltamos ao essencial. As mulheres estão, regra geral, em situação mais fragilizada. Não são inocentes, são uma tentação, mas quando as coisas correm para o torto, saem sempre mais penalizadas. E espero que a minha filha nunca sofra demais com isto. Pois tenho a certeza que será quase impossível protegê-la. Posso apenas dar-lhe as ferramentas (e isso inclui um curso de defesa pessoal) para que saiba lidar com o tema e tenha a frontalidade de me procurar, ou à mãe, para a ajudar.
E, perante isto, creio que as mulheres conseguem "arranjar" um homem desde que procurem o respeito e não outros aspectos, que também contam, como é óbvio, mas que nem sempre são os atributos necessários para fazer uma relação durar. Muitas só se apercebem disto já adultas, depois de algum sofrimento. Faz parte do processo de aprendizagem e crescimento mas, se há coisas que podem ser evitadas, com os exemplos, porque não tentar?
Eu, pessoalmente, sofri de amores. Nunca fui o rapaz que nasceu em berço de ouro, longe disso, lutei bastante para chegar onde cheguei e olhando para trás, quando penso no tema, será difícil aceitar que a minha filha caia de amores por um rapaz como eu era. São os tais preconceitos que nos atingem a todos.
Sinto-me um felizardo, respeito a mulher que me acompanha, que partilha a vida comigo, mas sofri de amores. E esses vão marcar para toda a vida. Mas faz parte do processo! E pelo percurso de vida, foram muito relevantes as influências das pessoas com quem me cruzei.
Por fim, acho que vale a pena reforçar o tema da beleza. Não vamos fazer de conta que isso não tem influência. Tem, e muita, mas o ideal de beleza tem diversos patamares. Há muita coisa que se consegue com alguns cuidados extra. Vejam, por exemplo, Cristiano Ronaldo. Não sou mulher, mas ele talvez seja um dos homens mais cobiçados. Tem um belo físico mas, imaginem que crescia sem ter acesso a todos os cuidados que tem tido com o corpo, ortodôncia e afins...Talvez fosse mais um homem banal, nem feio, nem bonito, apenas um homem.
E o mesmo vale para as mulheres. Já o disse noutras conversas, que cada mulher tem o seu corpo e que o excesso de peso, pior do que beleza, está relacionado com problemas de saúde. Já fui criticado por isso mas repito, mantenham-se em forma. Não digo muito mais e termino com esta imagem que deu origem a tanta conversa... Respeitem e exijam ser respeitadas. Sejam felizes, sejam vocês mesmas, sejam mulheres confiantes, é disso que os homens (aqueles que interessam) gostam!