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Conversa de Homens

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Existe um novo paradigma de masculinidade. O Homem Deixou de ser um parvalhão, passou a ser uma pessoa!

Esquema de burla em pleno estacionamento da Ikea

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Normalmente, quando vejo um post no Facebook sobre esquemas de fraude e frases como "atenção, isto aconteceu-me", tendo em ignorar. Na verdade, alguns deles são meros iscos para outras coisas e nada trazem de valor acrescentado. Por isso, e como espero que quem lê o Conversa de Homens tenha já alguma confiança no que escrevo, relato aqui o que me sucedeu este domingo em pleno estacionamento da Ikea.

 

A minha filha cresceu. Cresceu muito nestes três anos e chegou o momento que andamos a adiar apesar dos pedidos dela: mudar para uma cama de crescidos.

 

Este foi o dia e, depois de analisar bem as coisas, a Ikea apresentou uma das melhores soluções qualidade/preço. Mas, como se sabe, comprar ali, é comprar uma embalagem, neste caso pesada, e transportá-la dentro do carro até casa para depois montar.

 

Nada de mais, não fosse o facto de ter de ir sozinho à loja pois precisava de todo o espaço no carro para conseguir enfiar lá dentro os dois metros de comprimento da embalagem. Valeu a ajuda de um rapaz que estava ali ao lado, senão, ainda lá estava a esta hora...

 

Mas, justificada a razão para estar na Ikea, vamos ao "esquema".

 

A pessoa de quem não te lembras

Estava eu a pensar como iria enfiar a embalagem pelo porta bagagens adentro quando passa um homem numa carrinha, da mesma marca da minha, e me acena. Olhei, não reconheci, mas acenei com a cabeça, fazendo questão de mostrar um ar de "não te estou a reconhecer". E voltei àquilo que estava a fazer.

Deixei-me ir na história, já com a empatia por causa da questão da tiróide do homem! Afinal, não tinha nada a perder por dar dois minutos de conversa.

O homem, faz inversão de marcha e vem parar ao pé de mim. Pensei, "mas quem é este tipo?"

- Estás bom? A máquina está a portar-se bem?

- Sim, está..., respondo.

- Sabes, eu já não estou lá, agora sou diretor de (alguma coisa que não percebi, porque ele estava a falar de dentro do carro, do lado do condutor pela janela do passageiro).

- E como está o Pedro?

- O Pedro?, Pensei. Qual Pedro?

Perante a insistência do homem, não podia continuar naquele faz de conta.

- Desculpe lá, mas deve mesmo estar a fazer confusão. Não o reconheço de todo!

- Ah. Não me conheces por causa da tiróide...

- Tiróide? Talvez, mas não estou mesmo a ver...

- Então, onde compraste o carro? Perguntou, ao mesmo tempo que insinuava uma resposta da minha parte.

 

A título de curiosidade, troquei de carro no final do ano passado e como isso envolveu algumas pessoas e dois stands diferentes, poderia ser algum de quem não me lembrava. Deixei-me ir na história, já com a empatia por causa da questão da tiróide do homem! Afinal, não tinha nada a perder por dar dois minutos de conversa.

 

Esticou a mão para me cumprimentar, retribui e enfiei o braço pela janela.

- Desculpe lá, mas não estou mesmo recordado, mas eu também sou um bocadinho esquecido com caras..., confessei.

- Não faz mal, disse o homem. Olha, tens de ir ter comigo que eu faço-te um cartão que te dá 50% de desconto em tudo o que comprares no Corte Inglés.

Devo ter feito um ar de espanto, 50 por cento?

- Sim, ficas com o meu número, vais lá ter comigo, almoçamos, faço-te o cartão e ficas sempre com 50 por cento.

 

Nesta altura, sou honesto, comecei a desconfiar a sério da conversa... Mas, como ele insistiu, lá saquei o telemóvel para marcar o número do homem.

 

E, tive a certeza que era uma coisa ainda mais estranha quando ele remata: - Não é só no Corte Inglés, ficas com 50% de desconto em tudo o que é do Belmiro!

O que raio tem o Belmiro a ver com o El Corte Inglés? E tratei de despachar a conversa!

 

- Então adeus, eu depois ligo, disse eu a despachar o assunto. Ainda tinha de arranjar forma de enfiar dois metros dentro do carro. Pensei que o assunto estava fechado.

 

O homem, entretanto, sai do carro, vem ter comigo e eu, já na defensiva e a pensar que parte da embalagem poderia usar para lhe dar uma paulada na testa: Queres ver este?

 

Mas ele insiste na conversa:

- Não recebeste o email com o convite para o evento no Casino do Estoril? Foi uma coisa em grande!

- Não, não me recordo de ter recebido nada.

- Deves ter pensado que era publicidade e apagaste.

- Sim, deve ter sido... (enquanto pensava, já te ias embora).

- Foi uma coisa em grande. Esteve lá a Fátima Lopes...

Mas o que é que isso me interessa? Pensei.

- Ai foi? Porreiro, eu depois ligo.

 

Entretanto, dirige-se à bagageira a dizer alguma coisa que não percebi bem pois nesta altura já estava era a ver como me iria livrar do tipo.

 

Abre a bagageira e saca de lá uma caixa retangular, no início, parecia uma caixa de chocolates. Ainda pensei, mas ele acha que eu vou comer alguma coisa que me dê? Abriu a caixa e revelou algo bem diferente.

 

- Levas isto e depois vais lá ter comigo então. (Onde quer que o lá fosse).

- Não quero nada, obrigado.

- Leva lá isto, deixa-te de coisas!

- Não quero, a sério!

- Eh pá, pega lá, é um conjunto de facas do Master Chefe. Isto vale quase 500 euros.

Ao olhar para a caixa, um conjunto de facas de cozinha, brancas, que ostentavam um autocolante dourado com o valor de 499 euros.

- Leva lá isto, não foste lá mas levas isto.

 

Voltei a recusar mas na tentativa de me livrar do homem, peguei na caixa e enfiei na bagageira do meu carro, a ideia seria entragá-la à polícia porque, nesta altura, a coisa já cheirava a esturro. Parece ter resultado, o homem enfiou-se no carro e preparava-se para arrancar.

 

Voltei para a minha tarefa mas por pouco tempo.

- Olha...

Diz o homem de dentro do carro.

Voltei-me:

- Sim?

- Já me estava a esquecer, se tiveres aí alguma coisa só para dar ao rapaz, para faturar alguma coisa com isso e o chefe não o chatear.

Lá está. Rapidamente peguei na caixa, enfiei-a pela janela do carro do homem, e disse:

- Olhe, eu não quero mesmo isto...

Ainda tentou balbuciar alguma coisa mas, teve de ser, com voz mais agressiva:

- Olhe, já lhe disse que não quero. Boa tarde!

 

Arrancou, a praguejar, e continuou às voltas no estacionamento, provavelmente à procura de novo alvo. Fiquei, obviamente, alertado com a situação e a ver se parava junto de mais alguém. Ao mesmo tempo, só queria sair dali rapidamente.

 

Portanto, decididamente não se tratava de ninguém que eu possa ter esquecido. Além disso, como alerta para futuro, porque estes esquemas funcionam precisamente abusando da nossa falta de preparação, confiem mais nos vossos instintos e recusem este tipo de abordagens. Se sentirem que podem estar numa situação mais fragilizada, como num lugar de estacionamento mais "escondido", como era o meu caso, afastem-se rapidamente porque as coisas podem ficar descontroladas. E, quem vai com más intenções, está mais preparado do que o alvo escolhido.

 

Para sair dali com a carga, valeu a ajuda do rapaz que apareceu entretanto e colaborou na arrumação. Portas fechadas, e lá fui eu para casa, passar a tarde de domingo a dar cabo das costas a montar uma cama para a crescida. Na opinião da mãe, a cama que vai usar até aos 18 anos...

 

Não se esqueçam, confiem mais na vossa memória e cuidado com os esquemas, que estão a ficar mais refinados!