Taxistas vs Uber e Cabify: As regras são para todos, mas são para cumprir
A "guerra" que os taxistas estão a fazer contra "as empresas" que fornecem serviços à Uber e Cabify", tal como diz o presidente da Antral, Florêncio Almeida, tem tudo para provocar uma mexida a sério no setor dos tansportes. Quem irá ganhar, será o consumidor que, até hoje, tem sido, regra geral, mal servido e, em muitos casos, conduzido por pessoas que provocam arrepios.
Já o escrevi por diversas vezes, e repito: a Uber, a Cabify ou outra empresa qualquer que queira prestar um serviço, tem de respeitar e cumprir regras idênticas às impostas à concorrência (neste caso, o setor do táxi). No entanto, é preciso lembrar que o serviço prestado pelos táxis, em muitos casos, deixa muito a desejar.
Veículos sujos, com ar duvidoso (pergunto, como passam nas inspeções?) conduzidos por pessoas com a barba por desfazer, vestidos com roupa suja e que fazem a viagem com uma condução que nos faz rezar pela vida durante todo o percurso. No fim, pagamos e calamos! Dinheiro que pode fugir aos impostos porque muitas pessoas não pedem fatura. Algo que pode mudar nos próximos tempos com a medida governamental de permitir o desconto no IRS.
E isto sucede porque há falta de concorrência. Além disso, para quem não sabe, os taxistas têm uma componente de serviço público. Mas, se assim é, como é possível que se permita que o público seja conduzido em veículos a cair de podre?
Em Portugal, na Europa desenvolvida, há que ter regras num mercado aberto à livre concorrência.
Esta tem sido uma das razões que faz com que a Uber, a Cabify e outras plataformas tenham sucesso. Um serviço personalizado e de qualidade. A juntar a isto, a forma selvagem como os taxistas se comportam durante as manifestações, têm provocado na opinião pública algum repúdio e feito com que muitos, que não usavam estas novas plataformas, passem a usar. Publicidade gratuita!
O setor do táxi tem de se modernizar, prestar um melhor serviço e é crucial um maior controlo sobre a qualidade. Afinal, se existem benefícios fiscais, que saem do bolso de todos os contribuintes, temos de exigir um serviço de qualidade.
"Dois dos condutores da Uber são dois dos maiores ladrões do Aeroporto", diz o presidente da Antral.
Voltando ao tema das viaturas com falta de condições, e à questão que levanto mais acima, sobre o facto de passarem nas inspeções (todos sabemos que um carro chumba por defeitos mínimos). Há uns tempos um taxista, daqueles que enquadro como profissional a sério, explicou tudo.
Há carros "parados" que são usados para ir à inspeção em vez dos carros que circulam. As matrículas são trocadas, o carro bom vai à inspeção, passa e depois, no final, a matrícula volta ao carro de origem, com mossas, e, provavelmente, sem as condições mínimas exigidas para prestar o serviço de táxi.
São os esquemas montados e que, apesar de conhecidos, deixamos andar. Até ao dia!
Legalizar, claro
No que espeita às novas plataformas que prestam serviços de transporte, tem de haver regras e têm de cumprir determinados requisitos. Há a questão do trabalho precário, levantado pelos representantes dos taxistas, mas esse é o mal menor. Afinal, se me apetecer ganhar dinheiro extra, usando o meu carro, sujeitando-me a regras como a avaliação dos passageiros, porque não o posso fazer? Desde que pague os meus impostos pelo rendimento auferido, não encontro aqui qualquer problema.
A questão mais perigosa prende-se com a dúvida levantada ontem no programa Prós e Contras, pelo presidente da Antral: "Dois dos condutores da Uber são dois dos maiores ladrões do Aeroporto". Quer ele dizer que estes dois condutores, que ameaçou revelar as identidades, foram expulsos de condutores de táxi, por "roubarem" os passageiros nas viagens com origem no aeroporto. Mas, creio que isto não será novidade para ninguém, de todas as viagens que já fiz com origem no aeroporto, arrisco dizer, para não parecer exagerado, que talvez tenha apanhado dois que me serviram sem ir o caminho todo a praguejar e com ar de que iam parar na próxima esquina para me espancar por fazer uma viagem "tão curta".
O transporte avulso, feito por qualquer um, é tradicional de países do terceiro mundo.
Por isso, ao alegar isto, o presidente da Antral teria de expulsar quase todos os taxistas que circulam em Lisboa e que fazem praça no Aeroporto.
A formação
Muito se tem falado do CMT (Certidão de Motorista de Táxi) a que os taxistas estão sujeitos, mas, como já me confidenciaram alguns taxistas, não passa de uma espécie de proforma, com poucas ou nenhumas exigências. Porque, se assim fosse, quero acreditar, os taxistas com roupa suja, barba por desfazer, que escarram durante todo o caminho e dizem palavrões até na presença de crianças, nunca estariam a conduzir um táxi.
Trata-se de um exame de uma hora determina se o taxista pode ou não exercer a profissão, depois de receber formação adequada. E que pode ser feito online...
Realço as alíneas q) Cuidar da sua apresentação pessoal; e r) Diligenciar pelo asseio interior e exterior do veículo; do Artigo 2.º da Lei n.º 6/2013
Pergunto, quem gostaria de ser conduzido por uma pessoa que afirma isto: "Leis são como as meninas virgens, são para ser violadas".
Agora, e porque penso que já fiz passar o meu ponto, o mercado deve ser livre, deve haver concorrência mas todos têm de cumprir regras e pagar os impostos devidos. Se a Uber quer funcionar em Portugal, que faça o mesmo que todas as outras empresas: registe-se nas Finanças e pague os impostos, como todos nós. Porque no atual cenário, a Uber, propriamente dita, nem sequer opera em Portugal, fornece uma plataforma onde empresas (seja um condutor ou uma frota com 20) prestam um serviço.
Essas empresas pagam impostos, sim, mas e a percentagem que fica na Uber, está isenta? Além disso, é preciso regras no que respeita aos condutores porque quando entro num carro, quero ter a certeza que estou protegido. O transporte avulso, feito por qualquer um, é tradicional de países do terceiro mundo.
Em Portugal, na Europa desenvolvida, há que ter regras num mercado aberto à livre concorrência.